Antes de falar sobre como implementar uma cultura de Gestão da Qualidade em indústrias de alimentos, dois termos devem estar claros em nossas mentes: cultura e gestão da qualidade.

De forma simplificada, cultura relaciona-se com conjunto de hábitos, tradições, crenças, comportamentos e conhecimentos de um determinado grupo. Já gestão da qualidade são ações voltadas para controle e gerenciamento de processos dentro de organizações a fim de promover melhorias contínuas e assegurar produto ou serviço consistente.

Neste sentido, implantar uma cultura de gestão da qualidade é criar hábitos de gerenciamento (da qualidade) dos processos dentro da organização.

No Episódio #20 do Dezpadronize, o canal de podcast da ESA, Tatiana Silva nos diz que:

Cultura da gestão da qualidade é uma construção que demanda tempo e acontece aos poucos.

Ela nos diz ainda que a implementação necessita permear por toda organização, envolvendo desde o piso de fábrica até os gestores. O primeiro passo para implantar uma cultura de gestão da qualidade é entender, dentro da cultura da empresa, qual abrangência de mercado se deseja para organização. Por exemplo, mercado nacional ou internacional e quais normas é preciso seguir para atingir tal abrangência.

No Episódio #25 do Dezpadronize, José Luiz Martini fala sobre certificações de qualidade – mecanismos de gestão dentro das organizações, mas que devem fazer parte de sua cultura.

Enxergar a cultura da empresa para buscar a certificação correta, regras de segurança de alimentos e qualidade que compõem o ramo, são dicas levantadas por José Luiz. Assim como Tatiana Silva, José Luiz alerta que:

É necessário construir e estruturar a organização até obter patamar almejado (certificação requerida). No entanto, normas de certificação e sistemas de gestão devem ser analisadas quanto à viabilidade de adoção e necessidade de requisitos que a organização se propõe atender.

Ainda no Episódio #25, José nos esclarece que auto avaliar procedimentos/processos é necessário para manter a qualidade. Uma norma bem praticada e revisitada fornece diversos mecanismos que, inclusive, auxiliam a passar por momentos difíceis como crises.

Uma vez compreendida a abrangência almejada, faz-se necessário padronizar processos existentes na organização. No Episódio #20, Tatiana nos alerta sobre a importância da padronização: padronizar não significa engessar, mas sim tornar-se livre para enxergar a empresa como um todo e visualizar situações fora do padrão de qualidade. 

Por isso, procedimentos necessitam ser tangíveis aos colaboradores, possuindo linguagem acessível. Elaboração de procedimentos complexos e sem fornecimento de treinamento adequado atrasam a conquista da gestão da qualidade.

No Episódio #22, Juliana Moura ressalta que é preciso empatia na elaboração de documentos.

Faz-se necessário elaborar documentos práticos e aplicáveis à realidade da empresa, tais como registros de fácil preenchimento, que em sua construção consultem colaboradores que irão de fato executar o procedimento.

Juliana Moura nos dá dicas incríveis para elaboração de procedimentos baseada na metodologia ESA de design de processos.

De início, para gerar documentos alinhados à necessidade e realidade da empresa é necessário entender a identidade do negócio e aspectos que compõem a área de atuação. Na sequência, entender e realizar o macrofluxo do processo (neste momento é realizada identificação de etapas que serão aprofundadas).

Após entendimento do macrofluxo, realiza-se aprofundamento das etapas e tem-se um olhar lean para estabelecimento de melhorias. Neste ponto, empatia é fundamental para entender quem é o usuário e como tornar a informação acessível para ele.

Não só criar documentos, tem-se a necessidade de criar o hábito de procura/consulta aos documentos. As principais falhas de implementação da cultura estão relacionadas à baixo acesso e revisão de documentos e informações.

Tecnologias sim são bem-vindas na gestão de qualidade desde que facilitem o cotidiano. É claro que mudanças geram desconforto e é necessário testar por um período, porém ao realizar transformação digital, certifique-se de tornar acessível aos colaboradores com treinamentos práticos, por exemplo.

Após entender a abrangência da organização, padronizar processos e elaborar procedimentos a serem seguidos é hora de garantir que essa realidade seja vivida diariamente em cada ação dos membros da empresa. Tatiana Silva constatou em seus anos de experiência que, para gerar resultados positivos dentro das organizações é necessário esclarecer a importância da padronização, incentivar e comemorar pequenas conquistas em qualidade.

Em suas falas, Tatiana Silva frisa que é necessário incentivar o desenvolvimento dos colaboradores e deixar claro a importância deles para bons resultados da gestão da qualidade.

Para garantir a implementação de uma cultura de gestão da qualidade é imprescindível mudar o mindset de todos os colaboradores da empresa. E desta forma, garantir que eles possam entender a importância da gestão da qualidade e auditorias internas, pois estas permitem melhorias.

Tatiana Silva indica criar dentro da sua organização o hábito de frisar a importância de boas mudanças e de aprender novas coisas. Ao invés de se perguntar quanto tempo leva para implementar e manter gestão da qualidade ou pensar que gestão da qualidade atrapalha a linha de produção, se pergunte “Quanto tempo gasto para realizar reprocesso?” ou ainda “Quantas são as vidas que posso impactar negativamente em casos de contaminação?”.

A partir do momento que todos compreendem a necessidade de gestão da qualidade, a importância de cada um para que a qualidade seja atingida e que se vive essa realidade em cada ação, tem-se a implementação da cultura de gestão da qualidade.

Ressalto que sempre haverá melhorias a serem realizadas e que essas devem ser buscadas e vividas incessantemente.

Escrito por: Lilian Monteiro.